terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Capítulo 4


- Carlos.- diz ele.
- Carlos, você é aluno novo?- pergunto Ismael.
- Sim, sou sim.
- É você já conhece alguém da sala?
- Só conheço a Elisa, ela é minha prima.- quando ele fala isso, o meu coração congela. Como que um menino lindo como esse é primo da Elisa? Porque a Elisa não falou nada e nem me apresentou a ele? Eu não podia acreditar nisso...
A aula se segue até que chega ao fim. Terminam-se as aulas de Química e Geografia e agora é o recreio.
Elisa pega a minha cadeira e saímos da sala. Logo depois, Carlos (sim, ele mesmo, Carlos!) vem correndo em nossa direção e pergunta:
- Elisa, posso passar o recreio com vocês? É que eu não conheço ninguém aqui...
- Pode, claro.- diz Elisa.
Vamos andando até a cantina e nos sentamos em uma mesa. Eu ainda não acredito: o menino mais gato da escola, sem dúvidas, está passando o recreio comigo!
Logo que nós sentamos à mesa, Elisa me apresenta à Carlos e ele dá sorriso que quase me faz desmaiar.
Como esse menino era bonito, mas ele nunca olharia para mim, um menina feia, chata e ainda por cima, presa em uma cadeira de rodas.
Acaba o recreio e voltamos para a sala de aula. Nesse tempo em que o professor não chegou na sala, todos vem ao meu redor e me perguntam "O que aconteceu Bianca?" "Porque você está em uma cadeira de rodas?" "Você quebrou a perna?". Quem me dera eu só ter quebrado a perna. Eu fico muito mal nesse momento, porque além das pessoas ficarem perguntado coisas que só me lembrem o que aconteceu (coisa que eu tento esquecer todos os dias, mas é muito difícil), tem pessoas que ficam rindo de mim. Isso é a pior coisa que pode acontecer: as pessoas rirem de mim. Deixa-me tão para baixo.
Ainda bem que o professor não demora muito para chegar na sala e começar a aula. A minha maior preocupações esse ano não é com os estudos nem com os professores, é com os alunos mesmo. Alunos que não tem caráter nem educação, e acham que me zuar é a coisa mais legal de se fazer. Legal para eles! É horrível ser humilhada. Mas como as pessoas não tem educação, não se pode fazer nada.
As aulas passam rápidas demais, talvez deva ser por eu passar o tempo todo perdida em pensamentos. A última aula já acabou e os alunos vão saindo da sala. Arrumo o meu material e guardo na mochila. Vejo que Elisa já foi embora e nem me esperou, "Como vou sair daqui?". Porque no meio de tantas pessoas, eu não consigo levar a minha cadeira de rodas sozinha.
- Quer ajuda com a cadeira de rodas?- olho para trás... Não pode ser! É o Carlos.
- Quero sim, obrigada.- digo.
Ele pega em minha cadeira e me guia até o portão de saída do Colégio. Avisto minha mãe me esperando.
- Obrigada.- digo mais uma vez à Carlos.
- De nada.- diz ele indo embora.
Já dentro do carro, minha mãe me pergunta:
- Como foi o seu primeiro dia de aula filha?
- Foi... legal mãe.- não digo a ela o que aconteceu depois do recreio, não quero que ela fique triste por mim. Além do mais por ter um sorriso enorme em seu rosto.

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